Oficialmente, a pioneira foi a do morro da Providência, surgida em 1897 no centro do Rio de Janeiro. Mas, recentemente, novos estudos sugerem que já havia gente morando em barracos na cidade antes disso. Vamos aos fatos: a ocupação no morro da Providência começou quando cerca de 10 mil soldados que haviam participado da Guerra de Canudos, no sertão da Bahia, desembarcaram na antiga capital do país. Na bagagem, uma reivindicação: eles queriam que o governo desse casas para os veteranos do conflito. Sem grana para criar os tais alojamentos, o governo teria permitido a construção de vários barracos de madeira no morro da Providência, que ficava atrás de um quartel. Essa é a versão mais conhecida. Mas algumas pesquisas indicam que a primeira favela foi outro aglomerado de casas precárias, surgido ainda no ano de 1897, só que alguns meses antes da Providência. O local da favela pioneira seria o morro de Santo Antônio, também no centro. Estudos com documentação da época revelam que, no começo de 1897, já existiriam 41 barracos no local. Fica difícil comprovar essa história porque o morro de Santo Antônio foi destruído para a construção do aterro do Flamengo, nas décadas de 1950 e 1960. A favela da Providência, por outro lado, existe até hoje. Se o pioneirismo é discutível, restam poucas dúvidas sobre a origem do nome "favela". Tudo indica que os primeiros moradores da Providência chamavam o lugar de "morro da Favela" - era uma referência a um morro de mesmo nome que existia em Canudos, recoberto por um arbusto rasteiro também chamado "favela". Com o passar dos anos, a palavra virou sinônimo de uma triste realidade habitacional. Pelas contas do IBGE, mais de 10 milhões de pessoas vivem em favelas, espalhadas em um terço dos municípios brasileiros.
Ela é cariocaBerço das favelas, cidade do Rio tem hoje 1,1 milhão de pessoas em moradias precárias
1897
Soldados que haviam participado da Guerra de Canudos, no interior da Bahia, chegam ao Rio de Janeiro em busca de moradia. Sem ter casas, começam a construir barracos — primeiro no morro de Santo Antônio e, logo depois, no morro da Providência
1903
O governo carioca baixa um decreto que proíbe a construção e o conserto de cortiços, mas tolera a construção de barracões nos morros que ainda não tenham casas. A lei facilita o crescimento das favelas nos morros, ocupados pela população pobre sem moradia
1947
Na pesquisa de recenseamento, o governo reconhece oficialmente pela primeira vez a existência das favelas. Segundo a pesquisa, o Rio tinha 119 favelas, onde moravam cerca de 283 mil habitantes — 14% da população da cidade
1964
A ditadura militar passa a derrubar barracos e a retirar moradores de terrenos valorizados, especialmente na Zona Sul. Entre 1964 e 1974, 80 favelas são destruídas. Os 140 mil desabrigados vão para conjuntos habitacionais nas periferias ou criam novas favelas
Anos 1980
Com o fim da ditadura militar, o governo estadual incentiva políticas de legalização das favelas — e elas voltam a inchar. No fim da década de 1980, calculava-se que um milhão de pessoas viviam nas 545 favelas em toda a cidade
2005
Com 1,1 milhão de pessoas vivendo em favelas, o governo carioca aposta no programa Favela-Bairro, que faz obras de urbanização em mais de cem comunidades pobres. Mas a maioria delas ainda tem graves problemas de infra-estrutura e violência.